terça-feira, 26 de junho de 2012

mansidão


MANSIDÃO
Mais uma vez, ouvi comentar que, em nossos tempos, não dá mais para ninguém meter-se a manso...
Não falta quem pense que, em nossos dias, de avanço em avanço, de ambição desmedida, de violência, quem se fizer de manso será devorado.
Muito ao contrário. Continua plenamente verdadeira a bem-aventurança de Cristo! “Os mansos possuirão a terra”.
Ao longo de toda a minha vida, comprovo que a bondade não resolve tudo. Mas se a bondade não resolve, não é a violência que vai resolver.
Recebemos ensinamentos preciosos dos nossos pais. Mas aqui e acolá, havia pais que deixavam escapar conselhos que, hoje, da Casa do Pai onde se encontram, jamais repetiriam...
Há quem tome o pé da letra, como regra intocável, o aviso paterno de não trazer desaforo para casa... alguns pais chegavam a dizer: “Se chegar em casa chorando, porque apanhou na rua, apanha em casa, porque não soube reagir à altura...”
Não vacilo em pedir aos pais (pai e mãe de família): não batam nos filhos...
Conheço mães que batiam no filho-criança. Não notaram que o filho foi crescendo. Acabam ouvindo o que não queriam ouvir. “A Sra. veja que eu não sou mais criança. Acabe com esta história de bater. Um dia eu perco a cabeça e respondo a tapa com tapa...”
Pancada nem para animais!
Ah, se o pai acostumasse desde pequeninos a chamá-los para uma conversinha particular, sem sombra de castigos ou de pancadas. O ideal é que quanto mais sério for o assunto, mais baixa e suave seja a voz... Comece dizendo que deseja que o próprio filho conte o que aconteceu. E estimule ao máximo a narrativa verdadeira, sem mentiras, sem defesa capciosa.
Depois de ouvir o filho ou a filha, diga o que espera deles. Lembre como estão crescendo. Como em breve terão de viver como adultos, sem painho nem mainha, claro, sem sombra de amas...
Quando a pessoa se vicia em armar barulho em toda a parte --- com os balconistas nas lojas, com os motoristas nos táxis, com os trocadores nos ônibus, com os garçons nos restaurantes, com os vigias de apartamentos, para citar alguns exemplos ---, quando a pessoa cria caso onde chega, se esquece que muitas vezes, quem atende, atende mal, quem sabe está com a cabeça estalando com problemas de casa (problemas de desemprego, problema de dívidas a pagar, problemas com o marido, com os filhos, com o namorado, problemas de saúde, de cansaço...).
E ai de quem ganha fama de ser pessoa grossa, impaciente, respondona, criadora de casos...
O manso abre caminho, conquista simpatia e, além de ganhar o céu, possuirá a terra.

Do livro UM OLHAR SOBRE A CIDADE, de D. Hélder Câmara- 3ª edição/2009-PAULUS