quinta-feira, 19 de abril de 2012

No tempo da minha infância

No tempo da minha infância
(Autor desconhecido)

No tempo da minha infância
Nossa vida era normal
Nunca me foi proibido
Comer muito açúcar ou sal.
Hoje tudo é diferente
Sempre alguém ensina a gente
Que comer tudo faz mal.
Bebi leite ao natural
Da minha vaca Estrelinha
E nunca fiquei de cama
Com uma doença séria.
As crianças de hoje em dia
Não bebem como eu bebia
Pra não pegar bactéria.
A barriga da miséria
Tirei com tranquilidade.
Do pão com manteiga e queijo
Hoje só resta a saudade.
A vida ficou sem graça
Não se pode comer massa
Por causa da obesidade.
Eu comi ovo à vontade
Sem ter contra indicação
Pois o tal colesterol
Pra mim nunca foi vilão.
Hoje a vida é uma loucura
Dizem que qualquer gordura
Nos mata do coração.

Com a modernização
Quase tudo é proibido.
Pra tudo tem uma Lei
Que nos deixa reprimidos.
Fazendo tudo que eu fiz
Hoje me sinto feliz
Só por ter sobrevivido.

Eu nunca fui impedido
De poder me divertir
E nas casas dos amigos
Eu entrava sem pedir.
Não se temia a galera,
E naquele tempo era
Proibido proibir.
Vi o meu pai dirigir
Numa total confiança
Sem apoio, sem air-bag
Sem cinto de segurança
E eu no banco de trás
Solto, igualzinho aos demais
Fazia a maior festança
No meu tempo de criança.
Por ter sido reprovado
Ninguém ia ao psicólogo
Nem se ficava frustrado
Quando isso acontecia
A gente só repetia
Até que fosse aprovado.
Não tinha superdotado
Nem a tal dislexia
E a hiperatividade
É coisa que não se via.
Falta de concentração
Se curava com carão
E disso ninguém morria.

Nesse tempo se bebia
Água vinda da torneira
De uma fonte natural
Ou até de uma mangueira
E essa água engarrafada
Que diz-se esterilizada
Nunca entrou na nossa feira.
Para a gente era besteira
Ter perna ou braço engessado
Ter alguns dentes partidos
Ou um joelho arranhado.
Papai guardava veneno
Em um armário pequeno
Sem chave e sem cadeado.

Nunca fui envenenado
Com as tintas dos brinquedos;
Remédios e detergentes
Se guardavam, sem segredos.
E descalço, na areia
Eu joguei bola de meia
Rasgando as pontas dos dedos.
Aboli todos os medos
Apostando umas carreiras
Em carros de rolimã
Sem usar cotoveleiras,
Pra correr de bicicleta
Nunca usei, feito um atleta,
Capacete e joelheiras
Entre outras brincadeiras,
Brinquei de Carrinho de Mão,
Estátua, Jogo da Velha,
Bola de Gude e Pião.
De Mocinhos e Cowboys
E até de super-heróis
Que vi na televisão.
Eu cantei Cai, Cai Balão,
Palma é palma, Pé é pé,
Gata Pintada, Esta Rua,
Pai Francisco e De Marré.
Também cantei Tororó,
Brinquei de Escravos de Jó
E o Sapo não lava o pé.

Com anzol e jereré
Muitas vezes fui pescar
E só saía do rio
Pra ir pra casa jantar.
Peixe nenhum eu pegava
Mas os banhos que eu tomava
Dão prazer em recordar.

Tomava banho de mar
Na estação do verão
Quando papai nos levava
Em cima de um caminhão.
Não voltava bronzeado
Mas com o corpo queimado
Parecendo um camarão.
Sem ter tanta evolução
O Playstation não havia
E nenhum jogo de vídeo
Naquele tempo existia.
Não tinha vídeo cassete
Muito menos internet
Como se tem hoje em dia.

O meu cachorro comia
O resto do nosso almoço,
Não existia ração
Nem brinquedo feito osso;
E para as pulgas matar
Nunca vi ninguém botar
Um colar no seu pescoço
E ele achava um colosso.

Tomar banho na mangueira
Ou numa água bem fria
Debaixo duma torneira
E a gente fazia farra
Usando sabão em barra
Pra tirar sua sujeira.

Fui feliz a vida inteira
Sem usar um celular
De manhã ia pra aula
Mas voltava pra almoçar
Mamãe não se preocupava
Pois sabia que eu chegava
Sem precisar avisar.

Comecei a trabalhar
Com dezoito anos de idade,
Pois o meu pai me mostrava
Que pra ter dignidade
O trabalho era importante
Pra não me ver adiante
Ir pra marginalidade.
Mas hoje a sociedade
Essa visão não alcança
E proíbe qualquer pai
Dar trabalho a uma criança;
Prefere ver nossos filhos
Vivendo fora dos trilhos
Num mundo sem esperança.

A vida era bem mais mansa,
Com um pouco de insensatez.
Eu me lembro com detalhes
De tudo que a gente fez,
Por isso eu tenho saudade
E hoje sinto vontade
De ser criança outra vez.

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