quarta-feira, 23 de junho de 2010

o construtor de gente

O economista participava de um debate, em que se discutia o desemprego e, após um engenheiro falar sobre a contribuição da construção civil na demanda por mão-de-obra, o mediador, entre irônico e sério, fez a seguinte afirmação-pergunta: "os professores não constroem pontes; logo, o que eles podem fazer para ajudar a diminuir o desemprego?"
 
Sem tempo para pensar, o hábil polemista respondeu, também entre irônico e sério: "realmente um professor não constrói pontes, não levanta edifícios, não pilota aviões, não cura doentes... Essas atividades tão visíveis e responsáveis por tantos empregos.
 
O professor se contenta com algo mais simples: ele prefere construir o engenheiro que levanta as paredes, instruir o comandante que faz o avião voar, formar o médico que cura, e ensinar os jornalistas a fazerem perguntas embaraçosas.
 
O professor não constrói coisas... Ele 'constrói' as pessoas que fazem as coisas, ou pelo menos ajuda as pessoas a construírem a si próprias."
 
Dizia Immanuel Kant que o homem é a única criatura que precisa ser educada e a educação é a arte de formar os homens; isto é, desenvolver neles simultaneamente as faculdades físicas, intelectuais e morais.
 
Os animais são resultado de uma fatalidade biológica; mas o homem, conquanto tenha sua porção animal, por sua biologia, é um ser dotado de propósito consciente.
 
Nesse sentido, o animal-homem é uma entidade ética, capaz de construir, mudar e aperfeiçoar seu pensamento, sua conduta e suas atitudes.
 
Ortega y Gasset dizia que a vida nos é dada, mas não nos é dada pronta. O homem carrega, para além da sua fatalidade biológica, a responsabilidade de desenvolver o seu projeto de vida de acordo com sua livre escolha entre as várias opções que lhe são oferecidas para buscar a sua felicidade.
 
Aí está o papel do professor, que não constrói pontes, mas que ajuda o homem a desenvolver a si mesmo, a moldar sua ação e erigir seu edifício intelecto-moral.
 
O professor é um transmissor do seu saber, que deve deixar ao aprendiz o papel de escolher e construir a sua própria obra.
 
É na modéstia do seu propósito que o professor tem a nobreza da sua missão.
 
E vale a pena lembrar a poesia do biólogo chileno Humberto Maturana, feita para um professor do seu filho, que inibia o desabrochar da criatividade da criança querendo impor-lhe um modelo rígido.
 
A poesia, denominada prece do estudante, pode ser vertida para o português da seguinte forma:
 
Não me imponha o que você sabe;
 
quero explorar o desconhecido,
 
e ser a origem das minhas próprias descobertas.
 
Que o seu saber seja minha liberdade, não minha escravidão.
 
O mundo de sua verdade pode ser minha limitação;
 
sua sabedoria, minha negação.
 
Não me instrua; vamos caminhar juntos.
 
Deixe que minha riqueza comece onde a sua termina.
 
Mostre-se a mim, de maneira que eu possa
 
subir em cima dos seus ombros, e ver mais longe.
 
Revele-se para que eu possa ser
 
alguma coisa diferente.
 
Você crê que todo ser humano
 
pode amar e criar;
 
Compreendo, por isso, seu medo,
 
quando lhe peço que deixe-me viver de acordo com minha sabedoria.
 
Você nunca saberá quem eu sou,
 
se escutar apenas a si mesmo.
 
Não me instrua; deixe-me ser;
 
seu fracasso é que eu seja idêntico a você.
 
***
 
"A educação é uma arte particular, que exige vocações muito particulares; exige qualidades morais que não são dadas a todos os homens, tais como sabedoria, firmeza, paciência, vontade e força para dominar as próprias paixões;
 
Exige profundo conhecimento do coração e da psicologia do ser humano, além do conhecimento dos meios mais apropriados para desenvolver no aluno as faculdades físicas, intelectuais e morais necessárias ao seu crescimento.
 
A educação é uma arte que precisa ser estudada, do que resulta que o professor é, ele próprio, um eterno aprendiz".

Um comentário:

Anônimo disse...

MARAVILHOSO!!
QUEM TEM SABEDORIA, SABE A RESPOSTA CORRETA, SEM OFENDER. NÃO SEI QUEM ESCREVEU, MAS PARABÉNS.

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